A psicomotricidade é uma ciência que se concentra no estudo do ser humano por meio de seu corpo em movimento e sua relação com o mundo interno e externo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP), essa disciplina está relacionada ao processo de maturação, no qual o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. A psicomotricidade é sustentada por três conhecimentos básicos: movimento, intelecto e afeto.
O termo "psicomotricidade" surgiu na França no final do século XIX e início do século XX. Naquele momento, os psicomotricistas franceses enfatizaram um aspecto da corporeidade chamado de “corpo sutil” ou “corpo informacional”. Esse corpo é uma construção que abriga todos os registros de nossas experiências, pensamentos, sentimentos e percepções. Nesse momento histórico, a psicomotricidade é atravessada por diversos saberes e busca desenvolver as faculdades expressivas do indivíduo, possibilitando conhecer o corpo como uma máquina sensível e relacional.
Henry Wallon, que se ocupou do movimento humano, correlacionou a motricidade e o caráter, sendo este último designado por ele mesmo como “manifestações observáveis da atividade, afetividade, relações sociais, vontades e hábitos”. Para ele, o movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo.
Em 1947, Julian de Ajuriaguerra fez novas contribuições, delimitando os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. A psicomotricidade adquire, então, sua própria especificidade e autonomia.
Nos anos 70, a psicomotricidade passou a ser definida como uma motricidade de relação. A diferença entre reeducação psicomotora e a clínica psicomotora se ampliou, favorecendo uma maior abrangência do conceito de corpo do indivíduo. Passa-se a compreender o corpo em todas as formas possíveis de estar no mundo, seja na afetividade, no emocional, no pensamento ou no movimento.
Atualmente, a psicomotricidade é atravessada por diversos saberes diferentes que constroem um campo teórico não-linear e transversal. Em sua multiplicidade, busca sua singularidade enquanto profissão. É uma ciência-encruzilhada que utiliza as aquisições de numerosas ciências constituídas, como biologia, psicologia, psicanálise, sociologia e linguística.
Como campo transdisciplinar, a psicomotricidade investiga as relações entre o psiquismo e a motricidade e que, através da terapia, se dispõe a desenvolver as faculdades expressivas, intelectuais e emocionais do indivíduo. Com uma visão holística do ser humano, essa área integra funções cognitivas, socioemocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras para promover a capacidade de comportar-se em um contexto psicossocial. Exemplos de como a psicomotricidade pode ser utilizada: educação e reeducação psicomotora, terapia (psicomotricidade somática, terapia psicomotora), psicomotricidade relacional, hidroterapia e ramain.
Compreender o homem em seu território-corpo, inserido na cultura, com singularidades afetivas, sociais, sensoriais, perceptivas, relacionais, simbólicas e energéticas é um dos aspectos importantes da atuação do terapeuta psicomotricista. Ele sabe que é necessário vivenciar a própria psicomotricidade, ou seja, trabalhar sua corporeidade, para ajudar o outro no caminho do autoconhecimento através do corpo.
REFERÊNCIAS:
Coste, J. C. A Psicomotricidade. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 4ª ed., 1992.
Le Camus, J. O corpo em discussão: da reeducação psicomotora às terapias de mediação corpora. Porto Alegre; Artes Médicas, 1986.
O que é psicomotricidade. Associação Brasileira de Psicomotricidade, 2024. Acessível em: https://psicomotricidade.com.br/sobre/o-que-e-psicomotricidade.
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